segunda-feira, 15 de março de 2010

Identificação

NÓS, OS FORTES (Por Bruna Pattiê)

E porque somos fortes, choramos sozinhos no banheiro. No banho, embaixo do chuveiro, choramos feito crianças que soluçam e tem o nariz vermelho e os olhos inchados. Mas não temos a barra da saia da mãe pra correr e então usá-la de lenço e abrigo. Não. O que temos é a vontade de sentar no chão e espernear, de sentar no chão e arrancar o coração para fora do peito. O que temos é a necessidade de extravasar independente de quem ou do quê esteja por perto. Mas não podemos. E não podemos porque do outro lado, do lado de fora, estão todos aqueles que atribuíram à nossa personalidade o status de forte. E então choramos de pé, de queixo erguido, sem fazer muito alarde, recostados na parede, deixando a água correr e limpar o corpo, assim como o choro limpará a alma.
E porque somos fortes, estamos sujeitos a enfrentar – e com dignidade – todo o tipo de peripécias que a vida nos prega. E estamos aptos a corresponder às expectativas alheias de que não nos abalaremos por nada, nem por ninguém. E por sermos fortes, nos consideram além do sofrimento, e por isso fazem conosco o que não fariam com pessoas mais frágeis. Pela força nos condenam à prisão perpétua do coração de pedra. Por sermos fortes nos julgam incapazes de termos sentimentos, uma vez que não os demonstramos. E se os demonstramos, julgam ser melindre, ou algo do tipo.
E porque somos fortes, não abandonamos a luta. Jogar a toalha não é um termo que consta de nosso vocabulário pessoal. Abandonar o jogo, ou burlar algumas regras, seria algo fora de cogitação para pessoas fortes, como nós. Fortes, independente de gênero, são pessoas que se arriscam e nada tem a perder. Que não tem passado nem futuro. Vivem apenas o presente, uma vez que pessoas fortes não tem tempo para subjetivar o que quer que seja. Fortes não planejam suas vidas, não sonham com aquele dia especial e muitos menos criam expectativas, como fazem os demais mortais.
Pessoas fortes não se abalam com atitudes deploráveis, não compactuam da dor alheia, não colocam o coração à prova e não experimentam o gosto do desgosto.
Pessoas fortes, como nós, não se cansam de esperar, porque sempre estão prontas para ir à luta.
Pessoas fortes, como nós, resolvem seus problemas sem a ajuda de um ombro amigo.
Pessoas fortes, como nós, não se decepcionam.
Pessoas fortes, como nós, não voltam atrás.
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Créditos: Blog Chutando Pedrinhas
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Quando li este texto fiquei chocada e por isso ele está aqui! Que delícia, uma interpretação impar do mundo dos "denominados fortes".
Quero parabenizar minha querida Bruna, este seu texto em especial fala muito comigo.
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É isso ai. Quem sabe um dia se darão conta de quão frágeis somos, mesmo sendo fortes.

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